Bet da Caixa sofre rejeição nas redes e governo pode vetar ideia

Bet da Caixa sofre rejeição nas redes e governo pode vetar ideia

O lançamento da plataforma de apostas esportivas da Caixa Econômica Federal, popularmente batizada de Bet da Caixa, provocou uma forte reação negativa nas redes sociais. Monitoramento da empresa Ativaweb identificou que 81,4% das menções ao projeto foram desfavoráveis, num universo de quase 900 mil comentários analisados em 48 horas.

No caso da “Bet da Caixa”, a reação digital se organizou em três frentes, segundo a empresa responsável pelo monitoramento: “hipocrisia estatal”, “desvio de função pública” e “incoerência política”. A primeira questiona o governo criticar o setor e, ao mesmo tempo, lançar uma operação própria. A segunda aponta a associação da marca a um suposto “vício popular”. Já a terceira relaciona a iniciativa ao discurso social do Executivo.

Usuários questionaram a contradição de o governo, que tem se posicionado de forma crítica ao avanço das bets privadas, lançar sua própria plataforma estatal. A expressão “o governo que diz proteger os pobres agora lucra com o vício deles” foi amplamente replicada nos perfis analisados. O nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva apareceu em 31,6% das menções, com 90% de teor negativo.

A repercussão levou o presidente a solicitar explicações à direção da Caixa. O encontro com o presidente do bancoCarlos Vieira, está previsto para ocorrer após o retorno de Lula da Ásia.

Carlos Vieira deve defender que a iniciativa visa atrair apostadores que atualmente utilizam sites estrangeiros não regulamentados, evitando perdas fiscais e garantindo maior segurança ao usuário. Segundo o banco, a Bet da Caixa poderia gerar R$ 2,5 bilhões em 2026, compensando a queda de 50% na arrecadação das loterias após a popularização das apostas online.

Os dados oficiais até o momento apóiam os argumentos de Vieira. No primeiro balanço divulgado pela Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda, cerca de 18 milhões de pessoas participaram de apostas nos seis meses após o início do mercado regulado. Em termos financeiros, a receita bruta das bets chegou aos R$ 17 bilhões.

O futebol continua sendo o motor do setor nas apostas esportivas. Dados de agosto da operadora KTO apontam que 83,5% dos usuários ativos e 88% das apostas nas principais plataformas se concentram na modalidade. Entre os campeonatos mais apostados estão o Brasileirão, a Libertadores e a Premier League.

No outro segmento, os slots são a principal categoria de cassino na bet: representam 93,9% das rodadas, com títulos como Fortune Tiger, Gates of Olympus e Aviator entre os mais populares. Esses números ajudam a explicar por que o governo e a Caixa enxergam potencial arrecadatório no mercado, embora o debate público permaneça centrado na ética da iniciativa.

A repercussão negativa ocorre em meio a tensões no governo Lula, que tenta reforçar o discurso de combate aos “BBBs” (bancos, bets e bilionários) após a derrota na votação da medida provisória do IOF no Congresso. A proposta, que incluía elevação da alíquota de impostos sobre casas de apostas de 12% para 18%, foi retirada da pauta, frustrando os planos da equipe econômica de ampliar a arrecadação.

Enquanto a Caixa busca ampliar sua presença no mercado, o Ministério da Fazenda publicou regras que proíbem beneficiários de programas sociais de se cadastrarem ou permanecerem ativos em plataformas de apostas. A decisão cumpre determinação do Supremo Tribunal Federal e obriga os operadores a consultarem o Sistema de Gestão de Apostas (Sigap) a cada 15 dias para identificar CPFs vinculados a programas sociais.