Arquivamento de proposta para combater queimadas vira alvo do MP em Rondônia

O arquivamento do Projeto de Lei (PL) que previa a liberação de R$ 10 milhões para o pagamento de diárias a fiscais ambientais foi alvo de investigação pelo Ministério Público de Rondônia (Marizilda Cruppe/Greenpeace).

MANAUS (AM) – Na sexta-feira, 27, o Ministério Público de Rondônia (MP-RO) abriu um procedimento administrativo para averiguar o arquivamento do PL que destinaria R$ 10 milhões à Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental (Sedam) para financiar diárias de fiscais responsáveis pelo combate às queimadas. O projeto foi arquivado na Assembleia Legislativa de Rondônia (Alero).

Essa decisão ocorreu durante uma sessão itinerante do Legislativo no dia 26, em Machadinho d’Oeste. O objetivo do PL era assegurar a suplementação orçamentária para continuar as ações de fiscalização e prevenção de danos ambientais no estado.

‘Sessão Itinerante’ em Machadinho do Oeste (Ascom Alero)

Com a aproximação do que se denomina “verão amazônico”, que ocorre entre junho e novembro, aumenta o risco de novos incêndios. Em 2024, foram registrados 7.282 focos de queimadas em Rondônia entre janeiro e setembro, o maior número em 14 anos, o que acende um alerta devido aos efeitos imediatos, especialmente na saúde pública.

O promotor de Justiça do Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente, Habitação, Urbanismo, Patrimônio Histórico, Cultural e Artístico, Pablo Hernandez Viscardi, atual coordenador do Gaema, salientou que “a paralisação das ações compromete obrigações legais e acordos assumidos pelo Estado de Rondônia, incluindo compromissos internacionais”.

O MP-RO solicitou à Assembleia Legislativa cópias de pareceres e informações técnicas sobre o arquivamento da proposta de orçamento. O órgão também requisitou esclarecimentos sobre outras alternativas para financiar as ações ambientais.

Do governo do Estado, o MP-RO demandou explicações sobre as medidas adotadas e a viabilidade de reenviar o projeto à Assembleia ou realizar um remanejamento orçamentário. Além disso, pediu um planejamento estratégico emergencial para lidar com a estiagem, com ações para mitigar os impactos à saúde, aos recursos hídricos e à biodiversidade.

O MP-RO encaminhou ofícios para a Sedam, para a Assembleia Legislativa, para o governo do Estado e para o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), solicitando informações sobre o andamento das medidas. Para a Sedam, foram requeridos dados sobre a execução orçamentária, o impacto da não liberação dos recursos e as ações que podem ser comprometidas sem esse financiamento.

Arquivamento de proposta para combater queimadas vira alvo do MP em Rondônia
Linha de fogo na TI Sete Setembro. (Observa Rondônia)
Queimadas

De acordo com o Monitor do Fogo, do MapBiomas, mais de 30,8 milhões de hectares foram queimados no Brasil em 2024, representando um aumento de 79% em relação a 2023, ou 13,6 milhões de hectares. Desse total, 75% correspondem à vegetação nativa, com as formações florestais sendo as mais afetadas, abrangendo cerca de 25% da área queimada no país.

Em Rondônia, entre janeiro e setembro de 2024, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou 7.282 focos de incêndios, o maior número em 14 anos, com um aumento de 169% em comparação a 2023. Porto Velho é a cidade com o maior número de focos, representando 32% do total do estado, com cerca de 2.337 ocorrências.

No total, Rondônia teve 1,4 milhão de hectares queimados em 2024, o que equivale a um crescimento de 72% em relação ao saldo de 2023, segundo dados do Monitor do Fogo.

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Editado por Jadson Lima