Um novo estudo revela que a cobertura vegetal na Amazônia, especificamente em Rondônia, diminuiu de 90% para 62% ao longo de 34 anos. A pesquisa indica uma significativa fragmentação da floresta, com pedaços de vegetação nativa cada vez mais reduzidos, degradados e isolados, especialmente em relação aos grandes remanescentes e áreas protegidas.
As informações foram publicadas na revista científica Environmental Conservation por pesquisadores da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e colaboradores de instituições nacionais e internacionais. O estudo foi fundamentado em dados do MapBiomas, utilizando imagens de satélite de alta resolução de oito períodos entre 1986 e 2020, junto a métricas da ecologia da paisagem.
A vegetação natural do estado, que abrange florestas, savanas e áreas campestres, caiu de 91% para 62,7%, resultando em uma perda total de quase 7 milhões de hectares. Em relação à vegetação florestal, houve uma diminuição de um terço, passando de 85,3% para 57,1%.
A pesquisa também constatou um aumento no número de fragmentos de vegetação ao longo do tempo, totalizando cerca de 100 mil fragmentos em 2020, dos quais 78 mil eram exclusivamente florestais. Essas mudanças têm um impacto direto na conservação da biodiversidade. Mais da metade dos fragmentos está a pelo menos um quilômetro da floresta mais próxima, o que compromete a qualidade do habitat para as espécies locais.
Apesar da relevância das áreas protegidas, o estudo indica que, em 2020, apenas 20,4% da área florestal e 21,8% da vegetação natural estavam em unidades de conservação. Terras indígenas representavam 33,6% e 32,2%, respectivamente. A maior parte da cobertura vegetal fora dessas áreas ficava a mais de 10 km da conservação mais próxima.
Os pesquisadores ressaltam a importância de manter todas as terras indígenas e unidades de conservação em Rondônia. Devido à pressão política em relação a esses locais, é essencial intensificar a fiscalização e penalizar práticas ilegais, como a grilagem. “Enquanto a biodiversidade em fragmentos desprotegidos tem diminuído, as unidades de conservação e terras indígenas servem como importantes refúgios”, afirma Luan Goebel, principal autor do estudo e pesquisador de pós-doutorado. Os autores também sugerem a criação de corredores ecológicos para conectar remanescentes florestais e mitigar os efeitos do isolamento das áreas.
Este trabalho é parte de um projeto mais amplo que visa entender os impactos dessa tendência na fauna local. Um segundo estudo, já concluído, analisou como aves e mamíferos bioindicadores são afetados pela perda de habitat, revelando um rápido declínio da biodiversidade em Rondônia, principalmente entre mamíferos de médio e grande porte, como queixadas, veados, onças-pintadas e lontras. “O próximo passo será integrar dados ecológicos e biológicos para elaborar uma lista de espécies ameaçadas de extinção em Rondônia”, conclui o biólogo Philip M. Fearnside, pesquisador do INPA e orientador do estudo.
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